Calor X idade biológica: ciência mostra quantos anos envelhecemos expostos a uma sensação térmica a partir de 32ºC / Teoria X 



Essa pesquisa comprava uma da bases da Teoria X, que diz:



"... Um gêmeo que viver durante dez anos em áreas escaldantes envelhecerá mais do que o que viveu dez anos em áreas tropicais". Edson X.




Ciensofia, Amazon e-book, 2019




 O artigo e a "Teoria X" de Edson X abordam a relação entre calor e envelhecimento biológico:

Semelhanças:

Calor acelera o envelhecimento: Ambos concordam que a exposição prolongada ao calor acelera o envelhecimento.

Impacto significativo: Tanto o estudo científico quanto a teoria de Edson X destacam que o calor extremo tem um impacto significativo na saúde e no envelhecimento.

Relevância em áreas quentes: Ambos reconhecem que pessoas que vivem em áreas com altas temperaturas estão mais propensas a um envelhecimento biológico acelerado.





Calor X idade biológica: ciência mostra quantos anos envelhecemos expostos a uma sensação térmica a partir de 32ºC



Esse é o primeiro trabalho a indicar ao longo de dias, meses e anos mudanças provocadas pelo estresse térmico na forma como o DNA se expressa e controla o funcionamento do corpo

Por Ana Lucia Azevedo — Rio de Janeiro

27/02/2025 09h01  Atualizado há 2 semanas



Onda de calor atinge o Rio de Janeiro. Na foto, passageiros procuram se proteger do sol quente na sombra de um poste em ponto de ônibus da Avenida Presidente Vargas, na Cidade Nova


O calor pode nos fazer envelhecer mais depressa. A exposição prolongada a temperaturas elevadas extremas, como as deste ano no Brasil, que em menos de dois meses acumulou cinco ondas de calor, pode acelerar o envelhecimento. O tempo quente faz isso influenciar o modo como genes funcionam, afirmam cientistas americanos.


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Dessa forma, o calor aumenta a idade biológica, que entra em descompasso com a cronológica, para pior. O alerta está num estudo publicado nesta quarta-feira no periódico Science Advances, um dos de maior prestígio internacional. No estudo, a exposição ao calor aumentou a idade biológica em até dois anos e oito meses, dependendo da duração e da intensidade da exposição.


Isso significa que, mesmo sem mudanças no tempo de vida real, as células e órgãos do corpo funcionavam como se fossem até quase 3 anos mais velhas do que deveriam para sua idade cronológica.

Esse é o primeiro estudo a indicar ao longo de dias, meses e anos mudanças provocadas pelo estresse térmico na forma como o DNA se expressa e controla o funcionamento do corpo. Desenvolvida por cientistas da Universidade do Sul da Califórnia (USC), a pesquisa analisou dados moleculares e celulares de 3.686 pessoas, com 56 anos ou mais, nos Estados Unidos.

Os pesquisadores usaram ferramentas matemáticas chamadas relógios epigenéticos para estimar as idades biológicas de cada participante. Foi analisado o DNA extraído do sangue. Em seguida, compararam essas mudanças com o histórico de calor nas regiões onde os participantes viviam, com base em dados do Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA, de 2010 a 2016.

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Os dados foram os de índice de calor. Esse índice combina temperatura e umidade para estimar a sensação de conforto e desconforto térmico.

Foram considerados três níveis para a sensação térmica (e não apenas a temperatura medida pelo termômetro). O nível de “Cautela” inclui valores de 27°C a 32°C; “Extrema cautela”, compreendido de 32°C a 39°C; e “Perigo”, de 39°C a 51°C. Os dias de todos esses três níveis foram incluídos no estudo. Neste verão no Brasil, dias consecutivos de sensação térmica superior a 39ºC têm sido frequentes.

O estudo sugere que uma pessoa exposta a 30 dias consecutivos de calor com sensação térmica superior a 32ºC pode envelhecer biologicamente cerca de 51 dias a mais do que o esperado.

Os pesquisadores não encontraram diferenças significativas entre grupos de diferentes idades, gêneros ou classes sociais, sugerindo que o calor afeta a todos _ vale observar que as condições socioeconômicas e a desigualdade social são diferentes entre EUA e Brasil.

Mas a análise mostrou uma correlação significativa entre morar em áreas com mais dias de calor extremo e indivíduos com aumento maior na idade biológica. Isso se manteve mesmo após considerar diferenças, como atividade física, consumo de álcool e tabagismo.

Uma das autoras do estudo, Eunyoung Choi disse que participantes que moram em áreas com mais dias de calor extremo (acima de 32°C de sensação térmica) por até metade do ano, como os moradores de Phoenix, no Arizona, sofreram um envelhecimento biológico até 14 meses mais rápido do que aqueles que vivem em áreas com menos de 10 dias de calor por ano.

O estudo do grupo californiano impressiona porque apenas sete dias de exposição ao calor muito intenso foram correlacionados com alterações no DNA, afirma o epigeneticista Mariano Zalis, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

— E esse estudo foi feito num período muito menos quente do que o atual. Os dois últimos anos foram de recordes de temperatura e 2025 começou terrível. O impacto do calor em nossa saúde precisa ser mais bem conhecido e mitigado — destaca Zalis.

Perda do ritmo do DNA

Ao longo da vida, nosso corpo passa por mudanças químicas no DNA, chamadas de metilação, que podem ser influenciadas pelo ambiente. Os genes têm regiões que controlam a produção de proteínas. Se há muita metila, a produção fica mais lenta. Já se há pouca, é acelerada.

É um equilíbrio fino, que flutua ao longo da vida de uma pessoa e se torna mais falho à medida que envelhecemos. A ciência chama isso de relógio biológico ou envelhecimento epigenético.

Ao modular esse equilíbrio, o corpo se adapta a condições ambientais. Ao tentar se adaptar ao calor extremo prolongado, o corpo acaba por romper esse equilíbrio genético.

— Não se trata de mudar os genes, mas a forma como funcionam. Não são mutações, mas reações ao ambiente. O calor é um trauma para o corpo. Ele passa a consumir muita energia. Células morrem mais cedo, são deflagradas reações inflamatórias. É um processo que ainda estamos conhecendo — frisa Zalis.

Ter uma idade biológica maior do que a idade cronológica está associado a um maior risco de doenças e morte. Embora a exposição ao calor extremo já tenha sido relacionada a efeitos negativos para a saúde, incluindo maior risco de morte, o vínculo entre calor e envelhecimento biológico não era totalmente compreendido. A coordenadora do estudo, a geriatra Jennifer Ailshire, disse que as alterações epigenéticas poderiam explicar por que pessoas expostas ao calor crônico têm maior risco de doenças relacionadas ao envelhecimento, como problemas cardíacos, neurodegeneração e menor resistência a infecções.

Entre as mudanças associadas ao desequilíbrio da metilação do DNA estão aquelas em genes envolvidos no sistema imunológico (sobretudo, inflamação) e na resposta ao estresse térmico.

Outras pesquisas já mostraram que o calor pode afetar células de defesa, como monócitos e células T, que desempenham um papel importante na resposta imunológica. Pode ainda influenciar genes que regulam a reparação do DNA e o metabolismo celular, acelerando o desgaste dos tecidos.

Essas alterações no DNA poderiam permanecer mesmo após a exposição ao calor, acumulando danos ao longo do tempo, salientaram os cientistas.


 


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